o castelo de leiria

No passado fim-de-semana fui pela primeira vez ao Castelo de Leiria. Já sabia que o monumento tinha sofrido um forte restauro, mas durante a visita houve várias coisas que me intrigaram.  Primeiro, o bloco principal aparenta estar apenas parcialmente restaurado, o que não é usual, e além disso em fotos antigas aparecem várias colunas intactas na varanda, mas só as dos extremos aparentavam ser originais.


Consultando a Wikipédia, obtive a seguinte informação:

Já no final do século XIX, por iniciativa da Liga dos Amigos do Castelo, que pretendia fazer um estudo do castelo e iniciar a sua reconstrução. O arquitecto Ernesto Korrodi elaborou um projecto de restauro das ruínas do castelo (Zurique, 1898), que foram classificadas como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910. 
Finalmente, em 1915, a Liga iniciou as obras de restauro pleiteadas, com fundos próprios e o auxílio do poder público, através daDirecção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Este órgão, entretanto, não aceitou o nome do arquitecto suíço para a direção das obras, paralisadas no ano seguinte. De 1916 a 1921 começa-se com a consolidação das ruínas, melhoramento dos acessos e reconstrução da torre de menagem e da muralha (esta que é concluída em 1937). Os trabalhos mais interventivos foram retomados, a partir de 1921, quando uma derrocada parcial nos muros lhes imprimiu caráter de urgência. Korrodi foi finalmente nomeado diretor das obras, à frente de uma comissão sujeita à DGEMN. O seu trabalho desenvolveu-se até 1934, quando ele sai do projecto. As obras, porém, prosseguiram na década de 1930, com base nos seus desenhos. As campanhas de recuperação foram retomadas pela DGEMN em meados da década de 1950, prosseguindo nas duas décadas seguintes. Em 1955 a 69 a igreja da Pena é recuperada, e do projecto também faz parte a reconstrução dos Paços Novos. Novas campanhas se sucederam a partir de meados da década de 1980, prosseguindo pela década de 1990. 


O Pátio Interior, de interesse histórico e arquitectónico é testemunho das políticas de restauro do monumento no século XX, com destaque para as opções pela falsa ruína e pelo trabalho intencionalmente inacabado.

Algumas das intervenções promovidas por Korrodi foram posteriormente desfeitas, considerando-se que o seu projecto pecava por excesso de romantismo, sem respeitar o real perfil (original) do monumento. 


A existência de falsas ruínas chamou-me à atenção e fui pesquisar as internetes para perceber o que passara durante o processo de restauro.

Quando Korrodi chegou a Leiria, o castelo era algo deste género:


O seu plano era devolvê-lo ao seu auge (século XV):


No entanto, o seu projeto só foi seguido em parte:


Em vez disto:


Ficámos com isto:


Como se pode ver na próxima foto, anterior ao início dos trabalhos de restauro, as paredes em ruína hoje presentes são uma invenção do século XX:


O processo de restauro foi pouco pacífico, com Korrodi e a DGEMN a trocarem acusações de não se estar a respeitar o perfil original do monumento e a haver constantes alterações ao projeto, cuja implementação se extendeu por meio século.


A certa altura foi construído um passadiço numa zona agora totalmente coberta, e pela diferença de tonalidade do betume também podemos adivinhar que na primeira fase de restauro a parede à esquerda teria uma dimensão menor.


A casa do guarda também levou um restauro um tanto ou quanto criativo:


Eu percebo que deixar coisas por restaurar ou até inventar ruínas pudesse servir para dar um ar misterioso e romântico ao monumento, que é o que ele teria há cem anos atrás. Mas na prática, não resulta. Parece que faltou pedra ou que uma enxurrada a semana passada levou as paredes com os porcos. Queria acabar o post com um bom exemplo de restauro de um castelo, mas não me lembro de nenhum. Os melhores que conheço já chegaram até nós relativamente intactos. Outros, como o de Leiria e de Lisboa, além de valerem como monumento ainda servem como memória das correntes restauradoras do século XX.

3 comentários:

  1. What a shame! Ja a muitos anos que visito este castelo. Sempre tento imaginar o que era a seculos a tras. Acontece que muito o que esta, ja foi inventado. :(

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  2. Foi reconstruído segundo o que seria numa determinada data (para aí século XIV), no entanto isso implicou a destruição de ameias posteriores e a sua substituição por falsas que fossem de encontro à data para a qual queriam levar o castelo. Mas pelo menos está melhor assim do que demolido como muitos outros acabaram.

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  3. Os castelos que fazem postais ilustrados por essa europa fora foram quase todos inventados entre finais do seculo XIX e inícios do seculo XX.

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