Mais uma entrada na grande enciclopédia das frases infelizes.
Parabéns Cristina Espírito Santo, Portugal odeia-a neste momento. Mas não se mace muito porque é uma questão de semanas até um dos seus amigos voltar a tropeçar na língua, e em bom português, bater no chão com a cornadura.

É só para explicar que esta situação não se deve exclusivamente à minha entrada como colaborador.
Mas pensando bem, tenho andado a beber copos a mais de sumo na cantina. Amanhã entro com os olhos em baixo e pode ser que ninguém se lembre de mim. Até porque já vi gente a tirar mais papel para limpar as mãos que o necessário. Uma cambada de usurpadores.


No próximo dia 3 de agosto os Trilhos do Mar organizam mais uma caminhada, desta vez acompanhando o percurso da procissão dos barcos. Mais informações aqui.

A Avenida Central em Coimbra

Durante o Estado Novo foram levadas a cabo grandes intervenções urbanísticas que tinham como objetivo melhorar o tráfego dentro das cidades, o que levou a diversas demolições, como as que levaram ao aparecimento do Largo do Martim Moniz em Lisboa:


Ou já agora em Peniche a Avenida do Mar:


Tal também aconteceu em larga escala noutros regimes fascistas, como por exemplo em Itália com a construção da Via dell'Impero, que esventrou a Roma medieval:


Desde o 25 de Abril, este fenómeno passou a ser menos observado, devido à maior atenção aos direitos dos residentes e à preservação do tecido urbanístico, optando-se pela construção de vias circulares, que sendo externas à urbe, garantem o acesso rápido entre os vários pontos da cidade.


O processo atualmente a decorrer em Coimbra, que, pela sua morosidade, passa bastante despercebido, no entanto será das maiores alterações no centro histórico de uma cidade desde a construção da Baixa Pombalina em Lisboa:


No século XIX, na vastíssima área anteriormente pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz, foi criada uma nova zona nobre da cidade, pensada ao pormenor em redor da espaçosa Avenida Sá da Bandeira:


Em seguimento da expansão da cidade, começaram a surgir ambiciosos planos que pretendiam ligar esta parte da cidade ao trânsito que circula na margem do rio:


Pouco depois, começaram as demolições. No entanto, algum tempo depois o financiamento escassou e a construção não chegou a avançar, ficando o espaço conhecido como "Bota Abaixo" e servindo de parque de estacionamento:

Em 1992, Fernando Távora foi incubido de desenhar edifícios para a zona:


No entanto, não se esqueceu da antiga proposta e deixou os novos edifícios com um arco no meio onde passaria a Avenida Central quando fosse construída.

Entretanto o projeto do Metro Mondego incorporou a antiga aspiração, sendo este o aspeto do projeto em 2006 (note-se o aumento das preocupações urbanísticas, através da alteração do número de edifícios a demolir para o estritamente necessário e da reconstrução da emblemática Rua Direita através de uma estrutura em metal):


O projeto continuava a implicar a destruição de uma grande quantidade de edifícios seculares no coração da Baixa de Coimbra. No entanto, ao contrário do que se passava em tempos idos, há o cuidado de se fazer uma intervenção minuciosa, que se mostrou em várias vertentes (o que não invalidou a existência de contestação).
Por um lado, apenas são integralmente demolidos os prédios pelos quais a nova rua passaria, e a fachada dos restantes é preservada e será integrada nos prédios a construir.
Por outro, foi identificada uma fachada manuelina que entretanto tinha sido incorporada por uma ampliação. Graças aos trabalhos preventivos será preservada e exposta na nova Avenida:


Finalmente, foi descoberta uma torre medieval, que não estava contemplada no projeto, mas como não foi demolida, talvez seja preservada...


Deixo algumas fotos da evolução das demolições (a zona onde estão os carros já tinha sido demolida em meados do século passado):





Atualmente, estão a decorrer escavações arqueológicas:


A torre medieval continua à espera de um destino:


As traseiras das casas que davam somente para um acesso dos moradores e vão passar a estar viradas para uma das mais nobres artérias da cidade esperam remodelação:


Os armazéns entre a a Rua Fernão de Magalhães e o rio foram já totalmente demolidos:


As demolições atrás da Rua da Sofia avançaram mais um pouco:


Numa parede está a ser pintado um mural:


E a demolição da fachada que dá para a movimentada Rua da Sofia espera uma altura em que possa ser rapidamente substituída sem causar muito estrago visual num local que foi recentemente elevado a Património da Unesco:


A autarquia está a organizar visitas guiadas pelo património, experimentem ir e vão ver que não se arrependem. E se os vossos amigos acharem isto uma grande seca e não alinharem peguem nas vossas mães, que é o que eu faço (na minha, não nas vossas).


a igreja: deixe para quem sabe, papa!

Ainda bem que o Vaticano veio confirmar que, por mais bonzinhos que sejam, os ateus vão todos parar ao Inferno. É que há aí muito católico que não perde uma missa e não falta a uma confissão e que estava a ver a ser em vão todo o esforço em prol da salvação. Aliás, esta correção só interessa mesmo aos católicos, pois provavelmente os ateus não se preocuparão muito com a secção onde vão parar.

Deixo aqui as palavras ditas pelo Papa Francisco, um homem sem jeito nenhum para o negócio:

Se nós, cada um fazendo a sua parte, se fizermos o bem para os outros, se nos encontrarmos lá, fazendo o bem, devagar, com cuidado, pouco a pouco, nós faremos a cultura do encontro: precisamos muito disso. Devemos nos conhecer um ao outro fazendo o bem. ‘Mas eu não acredito, Pai, eu sou ateu!’ Mas faça o bem: vamos nos encontrar lá.

Aqui está o Verão Total de hoje em Peniche.
Não se esqueçam de baixar o volume na atuação dos Némanus que eu distraí-me e quando tirei o som três pratos e duas janelas já tinham ido com os porcos.

PS: eu é que sou um rebarbado ou tudo o que o Malato diz parece ter a ver com brincadeiras com os amigos dele?

PS#2: Rogério Cação promete que no próximo Verão Total aparecerá em mini-saia. Mesmo assim, não chegará aos calcanhares da vez em que foi à Revolta dos Pastéis de Nata e perante uma piada de Luís Filipe Borges sobre a sua altura confessou que estava a gostar tanto de ali estar que já tinha crescido mais cinco centímetros, o que originou o mais estranho período de silêncio desconfortável da televisão portuguesa e me fez rir durante tanto tempo que eu não sei como tive forças para me levantar do chão.

PS#3: "E para que não se acabe na tua despensa toma lá mais uma." Se neste momento houvesse um ataque nuclear, José Carlos Malato estaria fornecido de conservas até à próxima geração.

PS#4: Malato acaba de entrevistar uma rapariga a fazer renda de bilros. Encerra a entrevista com um elogio: "a mãe dela quando ela nasceu não foi cozida, fizeram-lhe rendas de bilros". O bom gosto não escolhe bocas.


obituário

Álvaro Santos Pereira não era um político, e isso é uma das muitas coisas que gostava nele. Outras fui apreciando ao longo do tempo: o seu livro O Medo do Insucesso Nacional, a vez em que se partiu a rir com a piada do deputado do PCP sobre as previsões de Gaspar, o ímpeto reformista, a convicção com que dava cada entrevista, e sobretudo, o facto de nunca ter estado completamente integrado no governo.
No mundo de Santos Pereira, os ministros não se demitem irrevogavelmente quando querem mais poder nem a oposição fecha os olhos à realidade para manter o eleitorado. No mundo de Álvaro doutores e trolhas são tratados da mesma forma e o estado não contrata empresas em função do contributo que deram às últimas autárquicas. No mundo de Álvaro Santos Pereira, há uma solução para tudo e um futuro brilhante para Portugal.
Se era um irrealista? Inevitavelmente, mas prefiro mil vezes a utopia do Portugal competitivo e inovador de Santos Pereira à realidade.

Quem é que amanhã vai receber a bela da lata de sardinhas? Jorge Gabriel? José Carlos Malato? João Baião? Já os estou a ver a fazerem fila à porta do diretor de programas a pedir a chance.

PS: Ganhou José Carlos Malato, que a propósito acabou de encomendar a construção de uma marquise pois as outras assoalhadas já não lhe chegam para as conservas.

PS#2: Haverá atuação dos Némanus. Já tirei a ficha do televisor da tomada como precaução. Segurança acima de tudo.

abstração

Muitas vezes a necessidade de se diferenciarem em função da posição que estão a ocupar no momento substitui a obediência ideológica que normalmente associamos a cada partido político. Nós, penichenses, ao lermos esta notícia não ficaremos muito surpreendidos pois já conhecemos a dinâmica da política local e a prioridade que este executivo tem vindo a dar ao investimento em infraestruturas que promovam a prática de surf.
Mas se não estivéssemos a par da estratégia deste executivo, não faria muito sentido. Vou apresentar as correções lógicas que mais facilmente apareceriam numa autarquia genérica.

O presidente da câmara, António José Correia (CDU), adiantou que tem vindo a reunir-se com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, por haver interesse de um investidor australiano em construir um parque temático em 280 hectares de terrenos da reserva agrícola e ecológica e da rede natura, na sua maioria privados.
Segundo a câmara, os promotores pretendem construir uma gigantesca piscina de ondas para a prática do surf durante todo o ano, além de um hotel de cinco estrelas, um campo de golfe e percursos pedonais e de bicicleta.


O presidente da câmara, António José Correia (PSD), adiantou que tem vindo a reunir-se com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, por haver interesse de um investidor australiano em construir um parque temático em 280 hectares de terrenos da reserva agrícola e ecológica e da rede natura, na sua maioria privados.
Segundo a câmara, os promotores pretendem construir uma gigantesca piscina de ondas para a prática do surf durante todo o ano, além de um hotel de cinco estrelas, um campo de golfe e percursos pedonais e de bicicleta.

Os vereadores do PSD vieram a abster-se na votação, por considerarem que a localização do projecto está prevista para "uma zona sensível" em termos ambientais e geológicos, por ser aí que é feita a ligação da península de Peniche ao continente.


Os vereadores do PCP e BE vieram a abster-se na votação, por considerarem que a localização do projecto está prevista para "uma zona sensível" em termos ambientais e geológicos, por ser aí que é feita a ligação da península de Peniche ao continente.

Os sociais-democratas colocaram também dúvidas quanto à viabilidade financeira do empreendimento no futuro, por desconhecerem eventuais estudos de viabilidade económica do projecto, além de pareceres de apoio da AICEP e da Agência Portuguesa de Ambiente.


Os socialistas colocaram também dúvidas quanto à viabilidade financeira do empreendimento no futuro, por desconhecerem eventuais estudos de viabilidade económica do projecto, além de pareceres de apoio da AICEP e da Agência Portuguesa de Ambiente.


Às vezes os posts são compridos e maçadores, o que faz que o que o aspeto do blog transmita a mesma alegria que o Abrupto do Pacheco Pereira. Para aligeirá-lo e como não tenho vida para passar o tempo a fotografar o mesmo banco de jardim, passarei a colocar entre os posts pinturas relacionadas com a pesca.

o estado (da nação)

Tomei a liberdade de ir buscar algumas medidas que o PS levou para as negociações e fazer uma pequena análise crítica:

1.1.1. Parar com as políticas de austeridade
Parar com os cortes de 4,7 mil milhões de euros acordados entre o Governo e a troica na sétima avaliação, nomeadamente, parar com os despedimentos na função pública, com mais cortes nas pensões atuais, com a “contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões” e com a redução de vencimentos.

com a recente subida extraordinária de juros para pagar a troica(?)/troika só pode estar mais que recetiva ao engrossar da despesa do estado

1.1.2. Política de rendimentos
Garantir a estabilização nominal dos rendimentos, através de um “Acordo de Concertação Social Estratégico”, que garante um aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN), das pensões mais baixas e a extensão do subsídio social de desemprego por mais seis meses, para as pessoas que não têm mais rendimentos.
Estas medidas promoverão a confiança das famílias e contribuirão para a dinamização
da procura interna.

os pouco investidores que ainda nos restam iam achar tanta piada que talvez fossem todos de vez para a China

1.3. Sustentabilidade da dívida pública
O PS defende uma solução global e europeia para o problema das dívidas soberanas
dos países da zona euro. A parte da dívida soberana superior a 60% do PIB deve ser gerida ao nível europeu, assumindo cada país a responsabilidade pelo pagamento dos juros correspondentes.
Esta solução baixava os juros a pagar e o défice orçamental.

pedir à Alemanha que se responsabilize pela nossa dívida, mais uma proposta muito credível

3. Privatizações
As receitas previstas com as privatizações, ao abrigo do PAEF, já foram alcançadas, cumprindo-se o montante 5 mil milhões de euros. Assim, cada empresa, por força do PAEF colocada em processo de privatização, deve ser objeto de reanálise.
O caso particular da TAP deve levar a um processo negocial particular. O PS defende um processo em que a TAP possa vir a constituir-se como um operador aéreo lusófono. O cariz estratégico da TAP para o desenvolvimento do turismo nacional, um sector exportador de serviços, deve levar a uma operação de privatização com redobrados cuidados estratégicos, protegendo as ligações diretas a mercados-fonte fundamentais.
O PS opõe-se à privatização das Águas de Portugal, da RTP e da CGD.

continuar a financiar empresas com custos operacionais muito maiores que a concorrência

7. Governabilidade
Correspondendo à solicitação do Presidente da República quanto às condições de governabilidade, após a realização das eleições legislativas antecipadas, o PS assume as suas responsalidades e reafirma: O PS ambiciona governar o país com maioria absoluta.
Se for essa a vontade dos portugueses, mesmo apoiado por uma maioria absoluta no
parlamento, o Governo liderado pelo PS não descartará acordos de incidência governamental e empenhar-se-á na busca de acordos de incidência parlamentar.

com minoria não aceitam, mas supostamente com maioria absoluta já iriam aceitar negociações com o PSD

PS, tu para mim morreste. O pior é que não és o primeiro e qualquer dia a única opção que me resta no boletim de voto é desenhar falos.
Pelo lado positivo, tenho muitos e muitos anos para aperfeiçoar a técnica. Vou começar a treinar a ver se nas próximas legislativas já levo guache.

Ontem o local onde trabalho foi capa do Jornal de Notícias:


Compreendo a distinção mas prefiro a sugestiva capa de anteontem:


Não te cuides Correio da Manhã. Eles andem aí.

ponto de situação (um abraço neste)


A somar a ter passado o ano a estudar em Coimbra, estou a estagiar na fábrica PSA de Mangualde até meados de agosto, pelo que agradeço a vossa compreensão se o blog não for sendo atualizado em condições. Prometo que quando chegar a Peniche haverá publicações sobre ruínas e o costume.
Entretanto, estou a montar um vídeo da Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem filmado em 2004 que tem moderado interesse. Peço desculpa por o estar a fazer em cuecas mas está calor.

Estava a procurar tralha na internet, quando dou com este post no blog Amigos de Peniche:


Publicado na altura em que se fizeram umas intervenções pouco simpáticas no convento, consegue ter várias leituras consoante quem o lê, e, sem dramas nem pormenores acessórios, ser direto ao assunto.

Tirando algumas notáveis exceções, atualmente o que se escreve na internet sobre Peniche é bastante irrelevante e não nos merece mais do que uns segundos de atenção por dia.
Mas houve um tempo em que a blogosfera penicheira era um mar de oportunidades para discutir Peniche. E os Amigos de Peniche eram o timoneiro.
A liberdade de expressão, se hoje for ameaçada por alguma coisa, será pela própria mentalidade das pessoas, que se unem contra o poder em vez de discuti-lo. Muita coisa estará errada em Peniche, mas será que faríamos melhor? Acho que a análise crítica e desinteressada merecia que gastássemos o nosso latim, ou sem grande prejuízo, o nosso penixêre.

festa de nossa senhora da boa viagem: nem tudo é mau (mas a maior parte é)


Por muitos defeitos que tenha a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, há para mim uma destacada virtude: tem um grafismo sóbrio e inteligente.
Enquanto os cartazes das festas das outras aldeias parecem resultar da inspiração de macacos com cio, desde 2011 que os nossos cartazes se pautam pelo bom gosto e provam que para fazer um cartaz de uma festa popular não é estritamente obrigatório usar o máximo de tipos de letra diferentes e todas as cores do arco-íris nas variantes mais berrantes concebíveis.



pequeno guia do património esquecido e ostracizado #5 igreja de são vicente

A Igreja de São Vicente foi o primeiro templo católico de Peniche. Devido à longínqua época em que existiu, chegou-nos pouca informação sobre esta construção, arrasada pelo terramoto de 1755 e completamente desaparecida depois da urbanização do terreno onde se situa a imagem do Bispo de Mariana, nos anos 70. Nesta gravura do século XVIII podemos vê-la do lado direito da Igreja da Ajuda:


E nesta foto com cerca de um século as suas ruínas (exatamente no centro da foto):


Apesar de haver pouca informação e ser raramente mencionado, este edifício assume uma enorme importância, não só pelo seu passado histórico, como também pela mística que lhe era associada pela população. Com os meios possíveis (à disposição de um gajo que não é historiador, mas por isso mesmo com mais liberdade para sugerir disparates), vou fazer um apanhado e uma análise crítica das lendas relacionadas com a Igreja de São Vicente. Comecemos por este relato do século XVIII incluído nas Memórias Paroquiais de Mariano Calado:

(...) tradições se conservam de pessoas antigas, que se fazem mais credíveis por se confirmarem com o que diz o cronista Frei Bernardo de Brito na sua Monarquia Lusitana, quando fala na entrada que Júlio César fez com o seu exército a Portugal e chegou a esta península (à qual se haviam acolhido os hermínios, em cujo alcance ele vinha), o que se tem por muito provável. 

Segundo esta históriadocumentada pelo relato feito pelos romanos, Júlio César chegou a uma ilha (presumivelmente Peniche) em perseguição dos lusitanos que tinham fugido da sua maior base, nos Montes Hermínios (presumivelmente a Serra da Estrela). A ser Peniche o local onde ocorreu a batalha pode ter sido o último reduto dos lusitanos antes da sua total subjugação.

E ainda se pode crer que se dilatou algum tempo nela depois de alcançarem os portugueses aquela vitória e que ele seria o que (em honra de algum dos seus deuses e em agradecimento de sair dela vitorioso) edificasse uma casa que na dita vila se acha situada à parte do norte entre ela e o lugar de Peniche de Cima, junto à Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, o que, digo, ao depois se colocou nela a imagem de S. Vicente, cujo nome ainda conserva a dita ermida suposto que o santo foi tirado dela há pouco tempo e se lhe dedicou altar na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, o que se fez por mais culto e decência da dita imagem.
Muito verosímil se faz ser o dito César, ou outro idólatra o que edificou a referida casa, por não ser feita à semelhança das nossas, nem das nossas igrejas, mas em forma de mesquita, assim o âmbito da casa como o da porta, tudo com muita fortaleza, pois tendo só de comprido trinta e três palmos e de largo vinte e nove, tem de grosso de parede nove palmos, e é de abóbada, e tem no meio da casa em igual proporção um arco de pedraria lavrada que não sai da parede mais  que a grossura da pedra lavrada e a parede do frontíspicio feita em forma de escarpa e o pórtico e âmbito da porta em volta redonda de pedraria lavrada e bruta juntamente suposto que quando se tirou o santo da dita casa se demoliu a porta, que se fez de proporação ordinária. 
E no convento de religiosos desta vila se acha um que foi missionário apostólico que andou em missão em África alguns anos, que diz serem todas as mesquitas dos mouros feitas por aquela mesma forma, ou sejam maiores, ou mais pequenas.

E se conserva na dita vila uma tradição trazida dos antigos que ali chegaram os godos e que a casa em que falamos foi templo de Vénus e que no subterrâneo, ou no seu circuito, está um tanque de água pura o qual se desce por escadas de pedraria, cuja boca está tapada com um letreiro.
Esta última tradição se supõe menos duvidosa, por se achar na dita vila um homem velho que diz que já a dita porta que vai para o referido tanque se abriu e ele desceu as escadas, porém não sabe o sítio dela por dizer que era muito pequeno e não se lembra e há muitas outras que afirmam que se abriu e se achou o dito lago, o que afirmam por lho dizerem pessoas mais antigas que o viram.
Presentemente mandei abrir (que estava fechada da dita casa olha para a parte do poente) uma porta por onde se dizia principiar a entrada do dito tanque e mandei cavar dentro e fora bastante altura e não se achou o que pretendia, mais que uns alicerces de pedra e cal, muito juntos uns dos outros, sem proporção de que fossem fundamento para nenhum género de edifício, e não continuei nesta diligência por não ter ordem de fazer grande despesa. 

Há uns anos foi encontrado algo parecido com o referido no texto: uma possível fonte subterrada que serviria a população e/ou o porto antes da construção das muralhas:


No entanto esta fonte está hoje (debaixo do pavimento) neste local:


Será que os populares associaram erroneamente a antiga fonte à igreja, por falta de noção geográfica? Ou haveria mesmo uma outra fonte subterrânea perto da Igreja de São Vicente?

Desta mesma porta que mandei abrir se tiraram no ano de 1676 duas pedras que se puseram no chafariz (que então se fez) dos cavalos e se fez por ordem do Marquês de Fronteira e pelo dinheiro da fortificação desta praça, que tinham dois letreiros de letra antiga em idioma estrangeiro, mas como se não vêem, nem se sabe o sítio em que estejam, não fiz diligência para o descobrir porque, para o fazer, era preciso demolir o dito chafariz ou parte dele, para o que não tenho jurisdição por ser a dita obra feita por conta da fortificação. Porém, não há dúvida que as ditas pedras estão no dito chafariz, porquanto se acham ainda algumas pessoas que as viram, e em um livro da Monarquia Lusitana de um curioso desta vila, à margem do capítulo acima alegado, está uma cota de letra manuscrita antiga, que diz o seguinte:
“Em São Vicente junto de Nossa Senhora da Ajuda se acharam duas pedras, que estão agora na fonte dos cavalos e serviram uma de ombreira outra de rebato, e para o tal ministério foram rebaixadas e se não pode ler mais que menos de metade em cada uma por ser de alto a baixo, porém bem se entende o nome de Júlio César e por isso se pode coligir ser esta a que o autor diz Peniche”.
Estas são as formais palavras da referida cota pelas quais se comprova que houve as ditas pedras e que estão sem dúvida na dita obra e, pelo nome escrito nelas de Júlio César, se pode ter por muito provável que não só chegou aqui, mas ainda que se dilatou algum tempo, pois se pode conjeturar que ele seria o que mandou abrir as ditas letras e edificaria aquela casa por templo a alguns seus deuses, pois se conforma tanto com as antigas tradições.

Primeiro que tudo, as pedras, a existirem, mesmo que tiradas da Igreja de São Vicente podem lá ter sido colocadas depois de retiradas do local original. Por outro lado, sabemos que aquela zona teve forte ocupação romana, pelo que haver lá perto uma construção (o tal subterrâneo) que incorporasse ou de onde tivessem sido retiradas as ditas pedras é possível.
As pedras têm bastante importância porque são a única ligação, tirando os estudos posteriores, que prova ter ocorrido aqui a batalha contra os resistentes lusitanos. A procura pela sua existência não é recente, como podemos ver por este relato do capitão do porto de Peniche, Pedro Cervantes de Carvalho Figueira, escrito em 3 de setembro de 1861:

A tradição entre os habitantes de Peniche dizia que os romanos para ali tinham levado uma pedra atestando este feito glorioso, mas ninguém sabia onde esta pedra existia; o meu professor de latim tinha-me falado dela muitas vezes; estes boatos excitaram em mim o desejo de a tornar a encontrar e, durante muitos anos, li todas as inscrições antigas e, pelas minhas pesquisas, conhecem-se algumas riquezas arqueológicas que existem, sobretudo, em Atouguia, a 3 quilómetros de Peniche, às quais se não dá importância alguma neste país e o que eu fiz para as inscrições fi-lo para os antigos documentos, podendo dizer, sem receio de ser desmentido, que tudo a que se tem publicado sobre Peniche, desde há vinte anos, foi baseado em informações por mim dadas aos amigos que delas se aproveitaram para as suas publicações; que se me perdoe esta tirada de amor próprio, mas é uma verdade que posso provar. 
Passando um dia de Julho de 1858 junto de um jardim situado no Morraçal da Ajuda, em Peniche, vi aí, numa pedra que fazia parte de um muro, uma linha de caracteres à flor da terra que dizia POMPEIA... Espicaçado pela minha curiosidade, apressei-me a ir ter com o proprietário do jardim, o qual prontamente me permitiu fazer extrair a pedra, com a condição de lhe tomar a por o muro no seu primitivo estado; encarreguei um pedreiro da extração, mas não foi bem sucedido, que a pedra estava deitada de lado e fortemente enterrada e cimentada no alicerce do muro. Passou-se ainda um ano depois desta primeira tentativa e uma segunda, feita com mais cuidado, pôs a pedra a descoberto. Tive a intenção de a erguer num local publico de Peniche e, por ocasião de ali se construir, no ano passado, um pequeno largo, mostrei o meu desejo de lá a colocar. Fi-la mesmo transportar para esse local, mas não se lhe deu importância alguma: deixaram-na abandonada entre as pedras e fui mesmo informado de que, sem meu conhecimento, tencionavam utllizá-la como uma boa laje no recinto que se ia construir no porto de desembarque, ao que me opus reclamando-a como minha propriedade e conservando-a à minha livre disposição. 
O assunto estava neste pé quando os senhores Duque de Bellune e Senevier vieram a Peniche; Suas Excias. sabem o resto. Eu preferi fazer uma oferta este cipo, duas vezes salvo por mim, a um imperador,os monumentos antigos, numa palavra, ao que cultiva a ciência, que aprecia os monumentos antigos, numa palavra, ao Primeiro Homem do Século, a deixá-la neste pequeno país, ignorado, sem utilidade para a ciência da Historia, exposto a ser um dia destruído pela ignorância de qualquer bárbaro vestido de homem civilizado.
Pelo que diz respeito à inscrição estou persuadido de que a sua primeira palavra é POMPElAM e as duas ultimas letras E. C... Era Cesaris. Os povos antigos, assim como as modernos, tinham o costume de dar aos países que conquistavam, ou descobriam, nomes da mãe pátria e é muito possível que os Romanos tivessem dado o nome de Pompeia, por imitação do nome da Pompeia da Campânia, perto de Herculano, que ainda não tinha desaparecido, à Península de Peniche: esta humilde opinião admite que a inscrição faz, sem dúvida, alusão ao feito de armas pelo qual os Hermínios foram vencidos.

Como vemos, esta história despertou a atenção de Pedro Cervantes, que acabou por encontrar uma peça importante para a nossa história, no entanto pode-se ter esticado nas suas interpretações, como podemos ver na análise de Mariano Calado:

É pena que esta tão importante peça não faça hoje parte do património local, encontrando-se no Museu do Louvre. Todavia, algumas das dúvidas levantadas por Pedro Cervantes, ao tempo da sua descoberta, podemos vê-las, agora, esclarecidas, graças a amabilidade da Dr. Catherine Metzger, conservadora daquele Museu. Trata-se, na verdade, de um bloco de pedra negra, vulcânica, espécie de basalto, com 0,45 cm. de altura, 0,425 cm. de largura e 0,08 cm. de espessura (quando foi descoberto as suas dimensões eram diferentes, pelo que terá sido, posteriormente, desbastado), no qual se encontra gravada a inscrição (confirmada pelo Professor N. Duval, da Sorbonne) POMPEIAE EPAGATHE L TERENTIVS FVRNVS MARIT ET L TERENTIVS RVFVS F C, cuja possível tradução será: A Pompeia Epagata, Lilcia Teréncio Furno, seu marido e Lzlcio Teréncio Rufo, mandaram fazer (este monumento).É, sem dúvida, uma pedra tumular e, não sendo razoável admitir que, com os cerca de trezentos quilos que pesava, tenha sido transportada de longe, é legitimo considerar que a sua gravação tenha sido operada no local (talvez utilizando basalto da brecha vulcânica da Papoa), em memória de Pompeia, cidadã de uma comunidade romana que em Peniche terá vivido. Além do mais, a dar força à tradição, é muito possível que este cipo tenha qualquer relação com as outras duas pedras com inscrição de letra antiga em idioma estrangeiro, nas quais se entendia o nome de Julio Cesar, de que fala o manuscrito de 1721 atrás citado.

Será que as pedras que supostamente carregavam o nome de Júlio César comprovando a fundação de Peniche pela fuga dos lusitanos que viviam na Serra da Estrela não passavam de pedras tumulares com um significado bastante diferente? Será que ainda se encontram na fonte (perto da antiga estação dos correios) para a qual foram transferidas em 1671? Será que foram retiradas e incorporadas noutra construção? Não é fácil encontrar respostas para estas perguntas, mas julgo que vale a pena tentar. Talvez um dia um estudioso com uma pá possa desvendar mais alguns pormenores sobre a Igreja de São Vicente, a fundação de Peniche, e, quem sabe, a origem da vida na Terra.

caldeirada repescada #6 os caravanistas




# fotografia de José Silva

Tem-se falado muito do cada vez maior número de caravanistas a ocupar Peniche. Conforme se pode ver pelas opiniões deixadas no Facebook, a discussão não sai muito a favor dos nossos visitantes.

Zé Pedrosa:
A semana passada, no outro Porto d'Areia mais a norte assisti a um destes selvagens (porque nem todos são caravanistas a preceito) a descarregar para o chão o depósito das águas sujas e mal cheirosas.

Nuno Gloria: 
só mesmo em peniche..em outros lados tem de acampar em sitios próprios para caravanas,aqui em peniche é na papôa é nos bombeiros é na alfandega,no porto dáreia..já para não falar da água que eles vão abastecer na lavandaria do filtro amarelo..eu pago a minha água,e eles que são ricos,porque é que não a pagam.??????

Lidia Maria:
é verdade sim senhor.assim como despejarem o lixo e as sanitas no fosso da muralha,junto á ponte velha uma vez que estão a fazer a limpeza do mesmo,assim como á pessoas que teem boas vivendas e alugam para estar a viver nas caravanas,que a higiene não será a mesma ,acho eu,isto é mesmo uma vergonha,será que não há ninguem competente que veja isto?

Carlos Mota Grão:
vêem para cá ,porque todos nós toleramos este turismo de deslize, é muita tolerância das autoridades que por sua vez trata-nos com intolerância o reste do ano todo.

Joao Paulo Ferreira:
vergonhoso, mil vezes vergonhoso, e ainda mais vergonhoso, são os responsáveis por esta cidade nada fazerem, capital da onda; onde? para mim Peniche é isso sim a capital do caravanismo, sem lei e sem o mínimo respeito pelos habitantes da cidade de Peniche que pagam os seus impostos para depois estas pessoas sem o mínimo de civismo, virem para cá e destruir as nossas paisagens naturais, pois para virem para cá nestes moldes para mim e para muitos habitantes de Peniche são personas non gratas.

Mas quem são na realidade estes animais selvagens que se intrometem em terreno alheio? Será que têm sentimentos como nós? Será que também choram pelo seu Benfica? Que vêm a ser estes bichos mal-amados?

Vitor Pampilhosa preenche calmamente o seu Sudoku. Aparentando estar já na casa dos 60, usa óculos fundo de garrafa e barba por aparar. A sua caravana está entre uma meia-dúzia delas, encostada a uma arriba atrás do molhe do Porto da Areia, se bem que os outros anos costumava ficar na zona do fosso. Vitor desde Dezembro só esteve 9 dias em casa. Em Peniche, estará até ao fim de Agosto. Depois, vai continuar a sua viagem.

Jesus Rodrigues lancha com a sua família entre um carro e duas carrinhas, de uma sai um toldo que lhes faz sombra. Uma senhora levanta-se e oferece-me o banco de plástico, para eu me sentar um bocadinho. Trabalham em Mérida, e Jesus tem antepassados penichenses. Ficam aqui uma semana, normalmente na zona da Papoa. Falam-me da brisa marítima que passa, e eu falo-lhes de dejetos. Mais concretamente aonde os depositam.
Jesus fala-me de uma sarjeta, Vitor conta-me que deposita num dos dois parques de campismo da cidade, cujo serviço de recolha é pago. Devia haver uma rede disso espalhada pela cidade? Sim, continua Vitor, pois a instalação é barata e já existe noutras terras.

E água potável? Tanto Jesus que está lá ao seu lado, como Vitor que está na outra ponta da cidade, usam o tanque de Peniche de Cima. Há uns anos, conta-me Vitor, alguém meteu um adaptador para ser mais fácil ligar a torneira ao tanque das carrinhas, este ano já não estava lá.

E quanto à população nativa, tem havido incidentes? Vitor diz-me que aqui há dias uns rapazes começaram a atirar pedras para cima de uma caravana. Os caravanistas chamaram a polícia e esta prendeu-os.

Chimeno está escrito a corretor na lapela da camisa de um agente da GNR. Pertence à Unidade de Controlo Costeira e está a descansar dentro do seu Nissan Patrol. Não tem havido ordens no que toca ao caravanismo, apesar de o agente saber que não é legal e onde muitas vezes os dejetos vão parar. Mas ainda não lhes chegou nenhuma queixa, logo não há razões para atuar.

E se fosse construído em Peniche um parque de propósito para sustentar o caravanismo? Não há dinheiro, responde-me um senhor da mesa de Jesus Rodrigues. Não há dinheiro para quê, construir ou frequentar? Para as duas coisas, sou elucidado.

Primeiro do que deixar a minha opinião no assunto, gostaria de vos sugerir um link para a opinião dos caravanistas.

Em Peniche, algo atualmente está muito errado: o despejo dos dejetos em pontos específicos de recolha, uma obrigação dos caravanistas, é taxado, e o abastecimento de água, uma necessidade, é gratuito.
Para evitar situações de despejo de dejetos em sítios impróprios, deveria ser criada uma rede de recolha destes dejetos sem qualquer custo para os caravanistas. O interesse é nosso, penichenses. Não queremos que continuem a sujar a nossa cidade. Acho até que a polícia devia andar à caça dos caravanistas que não deixem os seus resíduos em local apropriado, e atestar-lhes pesadas multas.
E passava-se a taxar a água, que ficaria disponível num conjunto específico de pontos. Quem fosse apanhado a abastecer num local não autorizado (entenda-se torneiras públicas) também seria multado. Até porque não estou a ver outra forma de o município receber diretamente dinheiro do caravanismo clandestino.

A questão é: o que perdemos nós penichenses se perdermos os caravanistas?
Eu concordo com a opinião pública: não muito. Mas também acho que não perdemos assim tanto se os deixarmos estar.

Chateia-o, caro leitor, ver caravanas espalhadas por aí?
A mim também, algumas delas. Quando se aproximam muito do Forte da Luz o sangue sobe-me um bocado à cabeça. Aquilo é património histórico e natural da nossa terra. Não devemos deixar que o estraguem assim (nem que seja só visualmente). Umas placas a proibir o estacionamento de caravanas (com vigilância a condizer) não ficariam mal. Aí e noutros locais. Baluarte da Gamboa, estacionamento do Cabo Carvoeiro...
Agora no Porto da Areia? Ou ao pé do fosso? Se tivessemos a certeza de que não iam poluir o ambiente, acho que só temos de ser hospitaleiros. Quem nunca se meteu numa caravana e partiu por aí à aventura que atire a primeira pedra.
Pronto, é verdade, eu nunca me meti numa caravana e parti por aí à aventura.
Mas ainda vou a tempo.

originalmente publicado em 22 de agosto de 2012

facebook: uma janela de oportunidades e uma porta para o coração

O Facebook é um lugar muito engraçado porque conquistou a confiança das pessoas de tal modo que elas se exprimem como se estivessem em casa. O que é muito interessante pois permite perceber a reação verdadeira das pessoas quando confrontadas por diferentes situações, que noutro contexto não nos permitiriam ter acesso às reações estimuladas.

Rui Zink, que tem uma boa resma de seguidores, num acesso de fúria e palermice, escreveu isto:

E já agora, «Amigos do Facebook»: vão bardamerda. Hoje nem uma ínfima fracção de voceses veio ao lançamento do meu livro. E não me venham com a desculpa de que estavam «ocupaditos». Virtuais sois, virtuais restareis. Pim!

Como não foi num jornal nem na televisão mas sim no Facebook, as pessoas sentiram-se à vontade em mostrar o seu desagrado. Vou dar um lamiré:

Fernanda Romão Estrela DESEMPREGADA.

Jose Carlos Serrano Como dizes o que queres e mandas bardamerda quem lê o que escreves, apaguei-te, podes sempre escrever para gambuzinos ...

Maria Manuela Guerra Pela parte que me coube, fiquei perplexa, uma vez que tenho lido todos os seus trabalhos. Impossível deslocar- me, e ter sido maltratada por isso, chega, basta- me os governantes. Lamento imenso, mas com amigos destes que me mandam "à bardamerda", só tenho uma solução. E eu com livros seus na minha casa!!!!!!!!

Isabel Fraga O que é que lhe deu Rui Zink? Isso nem parece seu.


Das mil razões que existem para eu não criar uma página no Facebook, se soubesse que ia ter seguidores criava uma só para ter acesso à reação dos ofendidos. Seria como andar aos tiros aos pardais.

good bye, gaspar!

Há duas semanas, Vítor Gaspar telefonou a Passos Coelho a exigir a saída rápida e irrevogável do Governo. O então ministro das Finanças tinha acabado de chegar a casa depois de uma atribulada visita a um supermercado. A história, contada pelo "i", que cita dois ex-membros do Governo, mostra bem que o governante já tinha chegado ao limite.
Gaspar, acompanhado pela mulher, resolveu deslocar-se sem segurança a um supermercado. Ainda que no início as compras tenham decorrido sem sobressaltos, o ministro foi reconhecido, na fila para as caixas, pelos clientes do supermercado, e a situação descontrolou-se. Entre comentários exaltados e insultos, a segurança do estabelecimento foi obrigada a intervir e a escoltar o ministro, sem conseguir evitar cuspidelas insultos e tentativas de agressão.


Eu compreendo mas tenho muita pena que este episódio tenha levado à demissão do ministro das finanças.
Eu gostava bastante de Vitor Gaspar porque havia uma coisa que o distinguia no panorama político atual: tinha um plano bem definido, enquanto os outros andavam à deriva. Vitor Gaspar preocupou-se quase em exclusivo a estabilizar as contas internas. E nisso foi relativamente bem sucedido: voltámos aos mercados e com juros relativamente baixos, sinal de que até à semana passada o exterior tinha voltado a confiar em nós.
Outros ministros, como Paulo Portas e Santos Pereira, o PS, e, com a devida modéstia, eu, teríamos preferido que houvesse menor obsessão pelo défice e houvesse maiores estímulos à economia, desde a diminuição e impostos às indústrias à atribuição de subsídios.
Mas olhando para trás, o défice mesmo com todos os cortes situou-se nos 10 % do PIB, o que mostra a pouca margem de manobra para arranjar verbas neste orçamento sem comprometer a negociação com a Troika e os juros no mercado externo.
Por isso desejo que o próximo ministro nas finanças, a fim de não se ver em situações intimidatórias no supermercado, aumente imediatamente o salário mínimo, os subsídios da segurança social e o investimento público. Numa segunda fase, não haverá supermercados, que tal como o resto da indústria deixariam de ser sustentáveis, e mesmo que fossem, os impostos não deixariam grande margem para consumo interno, mas até lá também pode cair um cometa ou o aquecimento global encher isto tudo de água morna. Pensemos por isso cada coisa a seu tempo.

O que faltou e falta ao Governo foi condução política. Em primeiro lugar, estratégia - desde logo a de que tinha de ser o Estado o primeiro a dar o exemplo no ajustamento (e não o último, como se está a ver, pois as famílias e empresas já ajustaram). Em segundo lugar sentido de Estado e de compromisso - o Governo não entendeu de que necessitava do PS e dos parceiros sociais para trabalhar e que, começando ao contrário agora não pode contar com essa disponibilidade.
Por isso me parece que a ideia de afastar Gaspar nada tem a ver com a correção de erros. Pelo contrário: parece-me que a ideia é afastar a cara da austeridade para se poder voltar à política habitual - gastar o que não há, dizendo que a crise acabou.

Henrique Monteiro, in Expresso


Para quem diz que já não há espírito bairrista.