as boas notícias também têm de se dar (às vezes)

O líder executivo da Living PlanIT, o britânico Steve Lewis, acredita que será possível começar a construir a PlanIT Valley, a "cidade inteligente" de Paredes, ainda este ano. Esta "cidade inteligente", para a qual estão previstos o desenvolvimento e uso de aplicações tecnológicas criadas pela holding, está a demorar "muito mais do que o previsto" a concretizar-se, mas Steve Lewis garante que não vai desistir do projecto.
A culpa - já se tinha dito - foi da crise financeira. "Tínhamos muitas empresas a assinar acordos connosco e, em situações normais, isso dar-nos-ia acesso ao mercado e poderíamos pedir dinheiro para construir a cidade. Mas Portugal viu-se no centro da crise económica", explica Steve Lewis, CEO da Living PlanIT. Seguiu-se a desconfiança, a possibilidade de o país abandonar o euro e, consequentemente, a impossibilidade de captar investimento, justifica. Por isso, a melhor opção foi "ficar calado" e esperar. "No último ano e meio temos falado com o mercado de investidores e a visão começou a mudar. Este Governo conseguiu credibilidade", argumenta o líder da Living PlanIT.


agora é a sério


Ricardo Araújo Pereira, que é o maior, tem vindo a mudar o seu estilo. Quer começar a ser levado a sério. E eu, apesar de não partilhar a sua ideologia política, acho que a esquerda merece um tipo a escrever com piada (têm sido todos da direita). Porque são os textos com piada que mexem com os nossos sentidos quando estamos a ler. Ler mal do governo hoje em dia é uma rotina e é preciso haver alguém que a quebre e nos agarre expondo-nos todo o ridículo da situação de forma serena e esclarecedora, mas inquietante.
Não como o PCP que ladra a todos os carros que passam, mas sim como a aranha que tenho na marquise e foge cada vez que a vou matar. E cuja amiga uma vez pregou-me um susto ao apanhá-la a percorrer-me o braço, que eu sou um mariquinhas e aquelas são das rechonchudas. Quero dizer, companhias desconfortáveis são bem vindas. Não que façam com que isto volte tudo ao sítio num instante mas servem para nos manter alerta.

A olaria romana de Peniche, via Adriano Constantino.

Revista Sábado: Mas a cidade [Rio de Janeiro] estava muito violenta na altura.
Cantora Dora: É verdade. Mas só fui assaltada duas vezes.

Entretanto na Rússia os ricos trocaram as limusines por ambulâncias com interiores ultra-luxuosos para poderem andar depressa sem serem interrompidos pela polícia. True story.

O Sócrates comentar a política actual é como eu dar uma festa, deixar tudo sujo mas depois mandar bocas quando a minha empregada estiver a limpar.


Nilton

o castelo de leiria

No passado fim-de-semana fui pela primeira vez ao Castelo de Leiria. Já sabia que o monumento tinha sofrido um forte restauro, mas durante a visita houve várias coisas que me intrigaram.  Primeiro, o bloco principal aparenta estar apenas parcialmente restaurado, o que não é usual, e além disso em fotos antigas aparecem várias colunas intactas na varanda, mas só as dos extremos aparentavam ser originais.


Consultando a Wikipédia, obtive a seguinte informação:

Já no final do século XIX, por iniciativa da Liga dos Amigos do Castelo, que pretendia fazer um estudo do castelo e iniciar a sua reconstrução. O arquitecto Ernesto Korrodi elaborou um projecto de restauro das ruínas do castelo (Zurique, 1898), que foram classificadas como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910. 
Finalmente, em 1915, a Liga iniciou as obras de restauro pleiteadas, com fundos próprios e o auxílio do poder público, através daDirecção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Este órgão, entretanto, não aceitou o nome do arquitecto suíço para a direção das obras, paralisadas no ano seguinte. De 1916 a 1921 começa-se com a consolidação das ruínas, melhoramento dos acessos e reconstrução da torre de menagem e da muralha (esta que é concluída em 1937). Os trabalhos mais interventivos foram retomados, a partir de 1921, quando uma derrocada parcial nos muros lhes imprimiu caráter de urgência. Korrodi foi finalmente nomeado diretor das obras, à frente de uma comissão sujeita à DGEMN. O seu trabalho desenvolveu-se até 1934, quando ele sai do projecto. As obras, porém, prosseguiram na década de 1930, com base nos seus desenhos. As campanhas de recuperação foram retomadas pela DGEMN em meados da década de 1950, prosseguindo nas duas décadas seguintes. Em 1955 a 69 a igreja da Pena é recuperada, e do projecto também faz parte a reconstrução dos Paços Novos. Novas campanhas se sucederam a partir de meados da década de 1980, prosseguindo pela década de 1990. 


O Pátio Interior, de interesse histórico e arquitectónico é testemunho das políticas de restauro do monumento no século XX, com destaque para as opções pela falsa ruína e pelo trabalho intencionalmente inacabado.

Algumas das intervenções promovidas por Korrodi foram posteriormente desfeitas, considerando-se que o seu projecto pecava por excesso de romantismo, sem respeitar o real perfil (original) do monumento. 


A existência de falsas ruínas chamou-me à atenção e fui pesquisar as internetes para perceber o que passara durante o processo de restauro.

Quando Korrodi chegou a Leiria, o castelo era algo deste género:


O seu plano era devolvê-lo ao seu auge (século XV):


No entanto, o seu projeto só foi seguido em parte:


Em vez disto:


Ficámos com isto:


Como se pode ver na próxima foto, anterior ao início dos trabalhos de restauro, as paredes em ruína hoje presentes são uma invenção do século XX:


O processo de restauro foi pouco pacífico, com Korrodi e a DGEMN a trocarem acusações de não se estar a respeitar o perfil original do monumento e a haver constantes alterações ao projeto, cuja implementação se extendeu por meio século.


A certa altura foi construído um passadiço numa zona agora totalmente coberta, e pela diferença de tonalidade do betume também podemos adivinhar que na primeira fase de restauro a parede à esquerda teria uma dimensão menor.


A casa do guarda também levou um restauro um tanto ou quanto criativo:


Eu percebo que deixar coisas por restaurar ou até inventar ruínas pudesse servir para dar um ar misterioso e romântico ao monumento, que é o que ele teria há cem anos atrás. Mas na prática, não resulta. Parece que faltou pedra ou que uma enxurrada a semana passada levou as paredes com os porcos. Queria acabar o post com um bom exemplo de restauro de um castelo, mas não me lembro de nenhum. Os melhores que conheço já chegaram até nós relativamente intactos. Outros, como o de Leiria e de Lisboa, além de valerem como monumento ainda servem como memória das correntes restauradoras do século XX.

Após a repressão da Praça Tiananmen, em 1989, os países ocidentais levantaram um bloqueio na venda de equipamento militar à China.
Graças a tal, a China desenvolveu exponencialmente a sua indústria de armamento e é hoje o quinto maior exportador mundial.
E pronto, queria escrever a moral da história mas não sei sequer se existe alguma. 

No bom caminho para daqui a poucos anos deixarmos de viver sufocados em impostos.
(e a procura interna crescer)

plano para hoje #6 papôa

O panfleto da lista do PSD para a Freguesia da Ajuda há quatro anos atrás, encabeçada por António Sequeira, apresentou curiosos renderings de obras para a Papôa.

Para o Portinho do Areia Norte é proposta a consolidação da arriba, num projeto que tem tanto de megalómano como de inútil. E não é deixado de parte o monumento a um acidente que ocorreu há 227 anos.


E também há o já conhecido no blog glorioso projeto para o Quebrado e que, além da substituição integral do alcatrão por calçada portuguesa, envolve um jato de água a sair de uma breguilha.


Atualização: encontrei a original.

plano para hoje #5 aquário

Filipe Pereira é o autor de uma página no Facebook onde alimenta a possibilidade de construir um aquário em Peniche. Estas são algumas algumas das suas ideias para diferentes áreas do edifício:






Quando estas duas últimas imagens foram publicadas no Facebook a estrutura levantou-me algumas reservas no sentido em que é impossível uma massa tão grande de água estar suspensa. Transcrevo a conversa com o autor:

José Carlos Romão boas. umas contas: se as dimensões da parte suspensa forem 150 x 300 x 100, haverá 4500000 dm3 de volume, ou seja, 4500000 litros de água, o que equivale ao peso de 56250 pessoas com um peso médio de 80 quilos. quero dizer com isto, acho que todo o edifício precisa de estar completamente apoiado no solo.

Aquário de Peniche Bom dia José Carlos Romão! Confesso que estou um pouco confuso com as medidas que escreveste, pois não consigo perceber onde as foste buscar. Seja como for, e ainda que os meus conhecimentos técnicos ao nível da engenharia de estruturas seja muito parco, posso assegurar-te que essas medidas não coincidem com as que utilizei na criação deste rendering 3D do exterior do edifício. As medidas da estrutura superior do edifício são 45 x 54 x 9 metros, sendo que a base terá praticamente 5 metros de altura. Isto faz com que a parte suspensa seja de 45 x 18 metros, perfazendo uma área em suspensão de 810m2. O volume de água que está pensado deverá ser de apenas 2.000m3 e não 4.500m3. Além disto, a parte suspensa corresponderá quase inteiramente à zona do Restaurante, com respectivas dependências (cozinha, lavabos, etc), e escritórios, não havendo, portanto, forças tão grandes a pressionar essa zona. Todo o volume de água estará assente na base. Espero que estes esclarecimentos sejam úteis. Um resto de bom dia...

Aquário de Peniche Posso acrescentar que. hoje em dia, em termos de estruturas, existem materiais que estão cada vez mais a ser usados no lugar do tradicional betão armado que são mais leves sem perderem a resistência para grandes pressões. Estes materiais permitem a construção de vãos suspensos com medidas incríveis, sem perder estabilidade. Esses mesmos materiais, alguns deles, pelo menos, estão naturalmente a ser equacionados para o projecto.

José Carlos Romão pelo desenho fiquei com ideia que parte do volume de água estaria suspenso. não sendo o caso, tudo bom. eu só comentei porque aplaudo a ideia e no que puder contribuir, espero ajudar

Aquário de Peniche Muito obrigado, é sempre altamente motivador quando vemos as nossas ideias serem bem recebidas por outras pessoas. Fica registada a tua disponibilidade para nos ajudares, teremos isso em conta!

Francisco Germano Vieira também deixou o seu contributo. Eu pessoalmente penso que um dia a ser construído um aquário poderia ser integrado num espaço mais abrangente dedicado ao mar, englobando as artes pesqueiras, construção naval, biodiversidade, naufrágios e turismo, ou não muito longe disso. Também possível seria a coordenação com uma unidade de investigação, ligada ao IPL. Exemplo de um espaço polivalente deste género é o Museu Marítimo de Ílhavo.


Porquê este carro, Sr. Bispo? É que a fortuna da igreja é feita à conta das camadas mais pobres da sociedade. Da próxima vez que eu for à missa vou dar alguns cêntimos a menos. Tantos como os cavalos que o carro do Sr. Bispo tem a mais que o meu.

plano para hoje #4 dunas

Raquel Pancada escolheu como tema da sua tese de mestrado em Geografia Física e Ordenamento do Território a análise da vulnerabilidade das dunas e medidas possíveis de serem implementadas que se estendem de Peniche de Cima ao Baleal:



Conforme se pode ver na figura de cima, é proposta a vedação de todo o espaço dunar e a substituição dos atuais caminhos de acesso à praia por passadiços sobrelevados. É oneroso, de difícil manutenção e, na minha opinião, em grande parte desnecessário. Não me parece que as dunas precisem de muito mais proteção do que a existente, desde que não haja abusos.

meio-baluarte da gamboa: um ensaio sobre a preservação do património

Nos últimos tempos vários bloggers têm chamado a atenção do colapso de alguns blocos do Meio-Baluarte da Gambôa, como Carlos Tiago e Francisco Germano Vieira.

A autarquia está a tentar arranjar forma de resolver este problema, no entanto eu não gosto muito da mentalidade vigente, suponho que não só em Peniche, em relação à preservação do património. Para já, sossegue quem pense que está em risco uma maravilha da antiguidade: o pano de muralha que está a ruir data em grande parte de uma criteriosa intervenção que foi feita em 1978 e da qual deixo algumas fotos:



Um monumento que sofreu uma intervenção de fundo há 35 anos não devia estar no estado em que está.
Eu percebo que com a possibilidade de concorrer a fundos europeus as autarquias possam ter o seu orçamento um pouco aliviado, mas creio que chegámos a um exagero. Se logo que o primeiro bloco caísse a câmara lá tivesse metido outro ou até preenchido o buraco com cimento, hoje a situação era muito diferente. Os arqueólogos podem-me dar na cabeça, mas parece-me preferível fazerem-se obras precárias de emergência do que ficar à espera de financiamento externo enquanto vai tudo abaixo.

Pode-se alegar que por ser monumento classificado a autarquia não pode mexer sem consentimento superior, mas ninguém se lembrou disto por exemplo ao fazer bancos em cima do Entricheiramento de São Miguel (e se recuarmos no tempo, fizeram-se verdadeiros crimes contra os monumentos militares de Peniche). Sem querer ser demagógico, lembro que meio convento foi para o ar do dia para a noite quando se fez o Continente, pelo que argumentar com o respeito pela integridade do património não me convence muito.

A minha posição pode ser considerada pouco rigorosa, mas acho que o nosso património devia estar em constante manutenção - neste caso, cai pedra, põe-se outra. Senão um dia quando chegar o dinheiro já não há nada para arranjar. Sem querer estar sempre a bater na mesma tecla, veja-se o Forte da Luz...

plano para hoje #3 prageira

O último plano para hoje mostrou-nos o projeto da Estação de Caminhos de Ferro de Peniche, e que levanta a questão: onde passaria exatamente a linha férrea?

Essa questão é respondida por um projeto de urbanização da Prageira (erradamente chamada de Prangeira) elaborado em 1957 por Paulino Montez e que eu recortei há uns anos de uma Voz do Mar. Como podemos ver, a linha férrea serviria sobretudo para dar suporte ao porto de pesca.


Para falar do resto, o melhor é comparar com uma vista aérea atual:


A diferença que salta mais à vista é o espaço ocupado pelo porto de pesca. Paulino Montez tinha já delineado a sua área, mas seria sobretudo ocupada por armazéns e não docas (Paulino Montez diz desconhecer a feição do futuro porto em concreto, mas pelos seus planos parece que nunca imaginou que avançasse tanto para o interior). As embarcações continuariam a abrigar-se na área compreendida entre o Forte das Cabanas e a Ponte Velha, situação que se foi deixando de verificar com a construção da docas no Molhe Leste e cuja machada final foi a recente construção da eclusa.
É engraçado notar o traçado de um espaço muito parecido ao atual Parque Urbano (incluindo até um campo de futebol profissional e um amador) mas mais perto das muralhas.
Também é curioso ver que a Praia de Peniche de Cima saiu a ganhar com a não execução deste projeto, pois estava previsto um possível porto a ocupar uma grande faixa do areal e as dunas atrás da Nossa Senhora da Boa Viagem dariam lugar a habitações.