Ok, isto não é a Irlanda, mas também (três pancadas na mesa) não é a Grécia.

Acabado o programa de ajustamento [a Irlanda] tem uma dívida pública próxima da nossa, um crescimento medíocre e um défice a rondar os 8%. Tivesse Portugal estes indicadores e os nossos juros andariam bem acima dos atuais 6%. A razão por que a Irlanda pode arriscar ir aos mercados é porque tem juros de 3,5%. E tem juros assim porque, apesar da austeridade e das suas contas públicas desequilibradas, tem mais de 100% do PIB em exportações - a língua e a relação com os EUA ajudam - e acesso facilitado ao mercado financeiro norte-americano. É que o buraco onde estava e em parte ainda está não resultou, como resultou o nosso, de fragilidades estruturais da economia que se acentuaram primeiro com o euro e depois coma crise financeira internacional. Resultou do gigantesco BPN em que se transformou o seu sistema bancário. Por isso, o seu caminho para sair desse buraco será diferente do nosso. E, apesar de todas as vítimas da sua austeridade, bem mais fácil.


Daniel Oliveira in Expresso

emparedamento #21


uma biblioteca para mamíferos


Este estudo fala daquilo com que lidamos todos os dias: uma população com uma densidade cultural bastante baixa. Eu tinha esperança que fosse só um problema de Peniche, no entanto depois de vir para a universidade reparei que, apesar de inteligente, a maioria das pessoas é profundamente desinteressada do mundo que as rodeia. Não é confundível com apatia ou défice de algo: as pessoas vivem, divertem-se, estabelecem relações entre si como acontece com qualquer outro mamífero no planeta.

Cada vez que leio comentários sobre a construção da biblioteca municipal, lembro-me de há uns tempos quando me dirigi à atual. Estranhei a biblioteca estar vazia, tirando uma senhora que sentada numa mesa lia um livro. A certo ponto, a senhora levanta-se e começa a varrer – era a funcionária da limpeza.

Isto levanta uma questão: é legítimo gastar milhões num projeto ao qual a população não vai aderir?
Os apoiantes diriam – é um investimento, não um gasto. Mas até que ponto o investimento na cultura aumenta a procura cultural de uma comunidade? Depois do nosso cinema, que não tinha público, fechar, a câmara foi projetando uns filmes de vez em quando, para uma sala também muito pouco cheia.
Não será que as bibliotecas são como os Mercedes que os emigrantes só tiram da garagem quando vêm à província? Não serão, que nem quilos de luzes de Natal empoleiradas numa fachada, uma forma de inflacionar o valor cultural de quem as constrói?

O mesmo se passa com tantas outras coisas: companhias de teatro, RTP2… qual o interesse em financiá-las com dinheiro público se a população não adere às suas propostas?
Os leitores perguntarão se não estou a ser contraproducente, eu que sou um profundo poço cultural. No entanto aconteça o que acontecer os meus interesses culturais estão sempre salvaguardados, porque o mercado não se rege segundo a norma the winner takes it all. Sim, a Casa dos Segredos tem vinte vezes mais audiência que um documentário sobre o Padre António Vieira, mas cada espetador desse documentário daria vinte vezes o dinheiro para o ver que os da Casa dos Segredos dariam para ver o seu programa, logo a produção cultural de qualidade é sempre minimamente viável.

Uma apologia do dinheiro então? Sim, atendendo que para quem a consome a cultura não é um sacrifício. É um prazer e deve ser pago como tal. Os outros só a querem para mostrar aos primos lá da aldeia, que é como quem diz, para aparentarem ser uma grande figura cultural que esconda o pacato mamífero que na verdade são.

plano para hoje #6 papôa 2

Regressamos agora aos mais ou menos menos ambiciosos projetos que foram propostos e (ainda) não realizados. E como bacalhau com natas não se faz sem sal (reparem na erudição que mostro possuir ao referir um ingrediente que não é óbvio, mas essencial) também Peniche não se faz sem o Arquiteto Paulino Montez.

E hoje vamos falar desse território inóspito que é a Papôa. Já antes lá tínhamos ido, e pelo caminho rebentado com a afinação cromática do ecrã, ao consultar os planos da lista do PSD para a junta de freguesia da Ajuda.


Desta vez, e com alguma pena nossa, não há bregilhas nem outros elementos de costura. Temos um projeto sério que fui encontrar num livro bastante sério emprestado pela pessoa séria que é o Adriano Constantino.

A legenda da planta é a seguinte:
2- centro de treino para surfistas
12- hostel para surfistas
17 - surf shop


Na verdade debaixo das anotações de Tozé Correia é-nos possível descortinar a verdadeira legenda:
2 - escola primária (já existente)
12 - parque (a construir)
17 - construções de interesse turístico (a construir)

Há vários aspetos a abordar. Primeiro, há um 17 mesmo em cima do ilhéu, ou seja, estavam planeadas construções turísticas no ilhéu da Papôa, o que hoje em dia não seria muito bem aceite (mas se já lá houvesse antigas, não seria tão mau como isso, veja-se o ilhéu do Baleal).
Depois, o formato da escola, que apesar de já construída, obedeceu a um plano anterior de Paulino Montez. A ideia era ficar orientada para a entrada principal de Peniche, mas como as casas adjacentes nunca foram demolidas ficou numa posição algo estranha.
Finalmente temos um parque no centro, que não foi construído e ficou impossibilitado pelas mais recentes construções.
Seguem fotos aéreas de 1995 (numa situação muito próxima à da altura do projeto) e da situação atual:



Como vemos, a palavra de Paulino Montez não foi longe neste caso, mas há outros em que o plano foi determinante. Lá chegaremos quando eu tiver tempo para escrever um post tão bonito que o vão querer imprimir e pendurar em cima do sofá da sala.

Não sei se já repararam mas meti uma foto debaixo da coluna do lado direito. Comecei com esta (o edifício mais alto é a Igreja da Ajuda, vista de costas) mas entretanto vou trocando com outras, algumas tiradas por mim, outras não, que retratem um aspeto interessante de Peniche. Um blog nem sempre é muito cultural, mas pelo menos tem de parecer.

Forças policiais apelam a greve às multas em dezembro

Eu bem sei que os polícias não têm muito por onde escolher quando projetam uma greve se não querem que o país se torne numa Buraca gigante, mas se o objetivo de uma greve é provocar a falta de um serviço para que este seja valorizado, esta é mais ameaçadora para os grevistas que para nós, infratores.

E João César das Neves é o último a cair nas malhas do bom senso nacional, que, agora sem EDP, é a única coisa que nos ficou do PREC.
Um por um, cairão todos os comentadores sem agenda política a curto prazo (derrubar o governo incluído, por isso o Daniel Oliveira e o Pacheco Pereira estão a salvo).
Miguel Sousa Tavares, está para vir molho.
Rui Ramos, não esperes muito mais.
José Gomes Ferreira, não sei bem como, mas também estás sujeito.
Marcelo, tu... Não, tu tens manha...

pequeno guia do património esquecido e ostracizado #6 fortim do baleal


Esta fortificação foi mandada construir por Junot, estávamos nós em 1808.



Comparando uma vista aérea com uma planta de 1895, foi-me possível verificar que ainda existia o muro que barrava a entrada no forte, e, por fotos nas internetes, que nesse muro havia uma falha com uma forma curiosa. Quanto à muralha em semi-círculo que protegia a zona onde terão assentado os canhões, dei por certo já nada existir por não a identificar na vista aérea.

Depois deste prognóstico, dirigi-me à fortificação, onde identifiquei rapidamente a antiga entrada.


No entanto, a erosão não espera pelos bloggers e já não fui a tempo de ver o bocado de muro que a modos de dizer faltava.


Mais adiante está o pavimento de uma possível bateria:


Aí perto conseguimos identificar os vestígios de uma pequena estrutura circular assinalada na planta cuja finalidade desconheço (torre de vigia?/ farol? ...)


E ia eu dar por concluída a incursão, quando a passar pelo lado Nascente do ilhéu reparei que havia um muro a suportar uma elevação:


Com alguns intervalos, o muro contorna esse morro em cima do qual eu tinha estado sem dar conta de que era uma elevação artificial:


De uns rochedos ao pé da igreja tirei é possível ter uma boa perspetiva deste local, que corresponde à bateria em semi-círculo que eu julgava já não existir.


Infelizmente estes muros estão a cair deveras, por culpa da pressão exercida pela terra e plantas que lá cresceram. O mesmo acontece na bateria da Consolação ou em vários pontos da cortina oriental de Peniche.

Para evitar a derrocada em curso seria necessário remover a terra que se foi acumulando, ou seja, meter meia-dúzia de homens a cavar durante um dia e despejar umas quantas sacas de areia para evitar que voltasse a crescer vegetação.
Não deixo estas sugestões à espera que alguém as tome em consideração, mas sim para que daqui a muitos anos quando eu for velhote (assim Nosso Senhor o permita) possa ser um chato do caraças e escrever artigos na Voz do Mar que terminem invariavelmente com "eu bem vos avisei, mas ninguém me deu ouvidos!" É o meu projeto de vida e faço questão de cumpri-lo.
Nem que A Voz do Mar por essa altura se chame Netos do Mar.
Fico-me com esta.

Devo ter sido o primeiro ícone gay da revista à portuguesa.

Herman José
(vá, eu dou o contexto - aqui aos 6.20 min)

Uma moça envia-me um mail atrevido q.b. a pedir que a ajude lendo o seu trabalho, opinando etc. A semana passada era um fulano que pedia que o lesse e, de caminho, ajuda para encontrar editoras. A coincidência dá-se em que ambos abrem dizendo «Li um livro seu» como se dessem volta à chave para a obtenção do tal serviço. Primeiro, não entendem que, ao ler um livro meu, não me estão a fazer um qualquer favor que eu tenha de pagar - se o livro for bom (e é, Deus me perdoe mas os meus livros são bons) - o favor fui eu que o fiz, em escrevê-lo, e o benefício é deles, em lê-lo. Esta ideia MIMADA e PÓS-MODERNA de que os leitores fazem um favor aos autores em lê-los é levada da breca. Lamento, mas comigo a ideia do leitor-cliente não pega. A pessoa quer ler um livro meu? Problema seu. A pessoa não quer ler? Problema também seu. O círculo da bajulação termina à soleira da porta de casa.

Rui Zink

Segundo uma auditoria do Tribunal de Contas, divulgada em 2012, a Parque Escolar, financiada por dinheiro comunitário, gastou 2,57 milhões de euros na climatização e ventilação da Escola Secundária Passos Manuel, em Lisboa - o sistema instalado, diz o estudo, apenas é usado em hotéis de 5 estrelas. E, "dadas as dificuldades orçamentais da escola face ao aumento das despesas de funcionamento", estava desligado.

in Sábado


Usando a desculpa de que o vídeo tem a Sónia Balacó, que é de Peniche, deixo aqui este tema dos Moullinex.

Há uns tempos deixei aqui um guia da Fortaleza de 1989 que digitalizei. Agora estive a fazer um PDF mais organizado e por isso volto a deixá-lo. O guia é o mesmo, só está mais bem formatado.


O meu pai criou este grupo no Facebook sobre a Fortaleza e possíveis usos.
A nossa grande divergência é que ele acredita que a população de Peniche pode conseguir evitar que a Fortaleza caia em mãos alheias (Pousada, Museu da Resistência...) e encontrar uma forma de servir os penichenses e eu penso que ou alguém de fora, seja quem for, pega nisto e faz alguma coisa que se apresente ou se é para estar à espera da autarquia ou da população para intervir numa vertente turística mais cultural mais vale ir já para Óbidos ou Cascais.
De qualquer forma quando tiver oportunidade irei meter nesta página coisas com algum interesse, como por exemplo fotos comprometedoras do Jorge Amador.
Não, era só para vos obrigar a visitar a página. Quer dizer, quem sabe... As coisas que dá para fazer no Paint hoje em dia...

arqueologia virtual

Haverá algo melhor do que um site de uma escola desatualizado?
Muito provavelmente.
No entanto, aqui fica o que resta dos sites de várias escolas da cidade, com a grande probabilidade de quem nasceu em Peniche nos últimos 15/25 anos encontrar lá o seu horário, nome ou até fotos.

Escola Secundária de Peniche - até 2012
Escola Secundária de Peniche - até 2009
Escola Secundária de Peniche (associação de estudantes) - até 2005
Escola Nº1 - até 2003
Escola D. Luís Ataíde (só funciona a secção referente ao 25º aniversário) - até 2000

Eu (1991) só consigo encontrar o meu horário no 12º ano, mas é possível ver o nome do meu irmão (1995) nas turmas de 2º e 11º anos.

Piadas.

A apresentadora trabalha na Antena 1, e vai pedir ao então ministro da Cultura subsídio para um programa de cultura. Durante dois anos, Bárbara Guimarães foi autora e apresentadora do programa cultural "Culto", um magazine diário que custava "1000 contos mensais, 850 para Bárbara, 150 para Mónica Galamba, autora".

in Notícias Magazine

emparedamento #18


uma volta de 360º


Hoje no debate consagrado ao tema "Fortaleza de Peniche: Resistência e Memória", além do Dr. Rui Venâncio participaram 21 pessoas, entre as quais seis (duas de Peniche) da União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses, eu e o meu pai, e restantes ligadas à entidade organizadora, o MINON (nenhuma de Peniche).
A conversa desenvolveu-se em torno das críticas que o pessoal do MINON teceu ao estado de degradação do museu, que consideram ser dos piores do país, o apelo que o da URAP fez à utilização de todo o espaço da Fortaleza como museu da resistência de âmbito nacional, e da defesa do Dr. Rui Venâncio enquanto responsável pela área cultural da autarquia apoiando-se no parco financiamento de que dispõe mas defendendo as ações que tem desenvolvido. Eu poderia ter intervindo ao apelar para a descontextualização de um museu anti-fascista de grande dimensão em Peniche tendo em conta o perfil do turismo na região (enquadrado dentro da lógica do Oeste), mas não intervim por vários motivos. Em primeiro lugar porque toda a gente, do MINON à URAP, vê um grande potencial na Fortaleza de Peniche, menos os penichenses, que continuam a alhear-se da discussão, e como tal também não poderia ser invocada a vontade de uma população se esta não mostra nenhum interesse participativo. Por outro lado, porque sabia que não há nada que temer da autarquia, que não mostra sinal de planos ou ideologia, como bem ilustra uma frase hoje proferida pelo Dr. Rui Venâncio - "é mais fácil recuperar um convento do século XVII que uma prisão política do século XX". Ora se era fácil recuperar um convento e o nosso foi oportunamente esquecido para não criar entraves à construção de um hipermercado então a recuperação da prisão política será uma tarefa hercúlea que atendendo aos antecedentes será também pouco evocada se o grupo Pestana ou semelhante avançar com capital.

Resumindo, o supostamente segundo lugar com mais potencial turístico do país vai continuar à mercê de grupos obstinados com objetivos sem viabilidade económica e sem força para os levar avante, de técnicos municipais que vão navegando ao sabor da maré e intervêm aqui e ali para justificar a remuneração de que usufruem, e de uma população que tem muita opinião e diz muito mal do surf, mas sente-se confortável a mandar palpites da bancada. Entretanto formas de tirar proveito da projeção que Peniche tem tido nos últimos tempos ou de diminuir a sazonalidade do turismo são coisas que não são para aqui chamadas.