ipsis verbis

Há um apanhado de coisas pensadas antes de serem escritas (ainda se faz disso em Portugal) que dá pelo nome de Expresso. Deixo algumas ideias publicadas no último número (2 de fevereiro):


Talvez parar para pensar melhor no assunto não fosse má ideia. Mas aí é que bate o ponto: por definição, a democracia viral não tem tempo para pensar, é instantânea e imediatamente contagiante, como todos os vírus. E disso depende a sua eficácia. Acrescente-se-lhe o exército de repórteres-justiceiros que, de telemóvel em punho e Facebook à espera, estão sempre alerta para que nada lhes escape, e temos, em todo o seu esplendor, o processo de formação das opiniões públicas nos tempos de hoje. Suicidariamente, os jornalistas e as instituições movem-se por reação e não por reflexo. Não param também para pensar se um determinado acontecimento, sufragado pelo "efeito viral", tem ou não mérito em si mesmo: a partir do momento em que existe, a notícia passa a ser a sua própria existência e há que reagir.

Miguel Sousa Tavares


Sem explicar os seus fundamentos objetivos, o governo permitiu a previsível fuga do PS, que está convicto de que, politicamente, ganhará muito com isso. Silencioso quanto às verdadeiras razões desta reforma, o governo permitiu, assim, que a discussão se deslocasse para o plano ideológico, quando se trata apenas de falta de dinheiro.


Medina Carreira

Toda esta novela de António Costa, toda esta indecisão, toda esta falta de clareza, obrigam-nos a pensar se ele tem o que o próximo primeiro-ministro precisa de ter. Em bom português: tomates.

Daniel Oliveira


No Canadá, os governos foram forçados a atuar, porque a opinião pública tomou consciência de que o aumento dos défices significava mais impostos no futuro. Por cá, nenhum governo será penalizado por "fazer obra".

Nicolau Santos


Boa parte da classe política, cada vez mais cega e pindérica, não percebe que esta visão tem um preço: também os eleitores passaram a ver os políticos, não como pessoas dedicadas à comunidade, mas como alguém que se serve a si próprio. O facto de terem (cada vez menos) votos não significa respeito. O respeito, caros eleitos, é algo que a maioria de vós já há muito perdeu. Com ele foi-se a coragem que vos falta para quase tudo o que seja ir contra a corrente: de aprovar salários decentes para os políticos a defender sequer o direito que têm à privacidade.
São mal tratados.
Mas põem-se muito a jeito.


Henrique Monteiro

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