guia da contestação

Hoje em dia há cada vez mais informação proveniente de fontes não especializadas, sejam blogs, redes sociais ou a própria conversa com as pessoas, que se interessam muito mais por política do que antigamente.
Estas fontes são muitas vezes parciais e a informação é fornecida com o objetivo de contestar a política vigente, no entanto muitas vezes são usadas meias-palavras ou conceitos abstratos que não entendemos muito bem, por isso eu elaborei um pequeno guia para nos ajudar a perceber o significado de algumas expressões e até a possivelmente também nos envolvermos na contestação.


O povo

Há várias definições diferentes para esta expressão dependendo do contexto em que é usada:
-Eleitorado do PCP. O povo vai sair à rua dia 2 Março.
-Entidade imaginária que tem como código de conduta a Constituição. O povo conquistou o direito a...
-Grupo de pessoas que é objeto de malícia por parte de outro grupo de pessoas - eles. Zé Povinho também pode ser usado. Eles roubam e o povo/Zé Povinho é que paga a fatura.


Eles

Existem para usurpar e oprimir o povo, que lhes é dependente de alguma forma, sejam eles políticos, empresários ou banqueiros.
eles é um conceito bastante flexível, no sentido de o meu pacato vizinho poder momentaneamente passar a pertencer aos eles desde que por algum motivo ascenda a uma posição pública relevante.
Portanto, eles são iguais ao povo, só que com poder.


Toda a gente já percebeu que...

O interlocutor apresenta uma opinião como se fosse um facto impessoal, para que tenha mais impacto e seja irrefutável.
Por exemplo: Toda a gente já percebeu que este governo tem de cair. Mesmo que discordemos desta afirmação, não podemos refutá-la, por um lado porque há a noção de uma força conjunta à qual não é possível fazer oposição e por outro a noção de não ser possível a discórdia devido a esta afirmação ser imposta sem deixar espaço para o contraditório.


Ninguém cala o povo

É remanescente dos tempos a seguir ao 25 de Abril, mas não tem sentido literal, pois toda a gente sabe que hoje pode falar à vontade por mais absurdo que seja o que tenha a dizer. Neste caso o povo é uma entidade una e temível, que não tem a capacidade de os aniquilar, mas com poder suficiente para limitar algumas ações que eles pretendam levar a cabo contra o povo.


O povo tem de sair à rua

É uma expressão bastante portuguesa, ao remeter para uma ação geral a realização da vontade do interlocutor. Assim sendo, supostamente tem o sentido do raramente ouvido temos de sair à rua mas com a diferença do autor da frase não ter a mínima intenção de sair à rua.
Chega ao extremo de tomar a forma de uma frase que deixei no blog há umas semanas: o povo português tem que se revoltar ir para a rua e defender os nossos direitos. Quer isto dizer: tenho o direito que lutem por mim.


E pronto, foi o post reacionário de hoje. Um abraço.

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