scouting #2 ruínas romanas

Há três anos fui fotografar o terreno defronte à Igreja da Ajuda. Foi depois a ver as fotografias e a tentar perceber de onde vinham as estruturas que tinha fotografado, confrontando-as com fotos mais antigas do local, que tive a ideia que fazer a secção "Entretanto" na Voz do Mar, sendo que o primeiro artigo publicado foi sobre este local.

No decorrer da construção de um bloco de apartamentos, foram descobertas ruínas romanas.
Eventualmente foi dada autorização para as obras prosseguirem mas a empresa ficou sem dinheiro e desde então nada mais se fez, a não ser os bombeiros extraírem a água do terreno quando fica transformado num enorme lago devido à água da chuva que não consegue escoar.

O que de mais recente lá se encontra são alguns carrinhos do LIDL:


Entre os romanos e a atualidade os únicos edifícios dos quais tenho conhecimento a serem levantados neste terreno foram fotografados por António Jesus Lourenço em 1983:


Estes prédios foram demolidos ainda na década de 80 ou no início da seguinte, e o que restou deles foi arrasado nas escavações mais recentes.

Mesmo assim, ainda há vestígios que estiveram quase para desaparecer, mas por acaso escaparam, como é o caso deste canto:

O vestígio que mais sobressai parece ser a base de uma chaminé.


Na foto de cima vê-se o que parece ser um buraco feito por uma máquina que foi impedida de prosseguir.  O que impediu então que tudo o resto fosse arrasado e esta estrutura salva? Talvez o entendimento de que também poderia ser romana. Eu também pensava que seria romana, no entanto perto dela estão vestígios mais antigos, que pela sua reduzida altura mostram que a estrutura em tijolo é mais recente.


Existe um canal, outrora subterrâneo, cuja função desconheço, mas aparenta ser uma conduta de água. Não havendo poços na proximidade, poderia conduzir a água da chuva ou de alguma atividade para o fosso (está alinhado nessa direção):


Antes disso, havia somente terrenos de cultivo, como prova esta foto da primeira edição do "Entretanto":

No entanto esta zona seria bastante ativa entre os séculos I e IV, altura em que estariam nesta zona instalada uma profícua indústria conserveira que se dedicava a exportar o vinho produzido em Peniche (e não as conservas como normalmente se supõe). Quando a este período, há uns muros de pedra:


Restos de ânforas estão espalhados por todo o local:


Houve nesta zona uma intensa atividade durante o período romano. Conhecemos poucos vestígios, tal como os fornos, e uma estrutura na Avenida 25 de Abril que já ouvi dizerem ser romana.
Mas obras como o novo Lar de Santa Maria foram construídas sem nenhum acompanhamento arqueológico. (ver comentários) Não podemos estar à espera que sejam os empreiteiros a virem dizer o que é que encontraram, pois isso não é do seu interesse, visto que atrasa ou no caso dos fornos, impede a construção.
Tem de ser a autarquia a disponibilizar o acompanhamento das obras durante as escavações, o que custa dinheiro e no caso de se encontrar alguma coisa o progresso da cidade é atrasado.
Por isso muitas vezes a câmara prefere fechar os olhos e deixar avançar as máquinas, como aconteceu no caso do Modelo e depois veio-se a descobrir que foi destruído património que remonta até à pré-história.

Os fornos, tal como os restantes vestígios que a zona do Morraçal da Ajuda esconde são do interesse público a longo prazo. E as ideias para essas zonas, passem elas por um núcleo museológico ou outra coisa qualquer, dizem respeito a todos nós, e tenho pena que não haja muito interesse nelas.

Sem o envolvimento ativo da população, nada feito.


# percurso feito em 8-7-2009

2 comentários:

  1. onde está o lar, ou melhor, os alicerces teve sondagens mecanicas e acompanhamento pela empresa neoepica. o que não teve acompanhamento foi a zona da fortaleza e da igreja de são pedro entre outras coisas

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  2. disseram-me que não tinha tido, mas pronto, a informação está errada. obrigado pela correção.

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