scouting #1 atouguia medieval


Decidi para começar tentar encontrar o que resta da Atouguia da Baleia no tempo em que era um importante porto marítimo fortificado, nos séculos XII a XV.

Como a cartografia ainda não estava desenvolvida no auge da Atouguia como terra piscatória, há muita informação sobre o desenvolvimento de Peniche e quase nenhuma sobre a Atouguia. 
Para me guiar, segui uma planta de zona muralhada possível que Mariano Calado desenhou sobre uma planta da vila. Sobrepondo essa hipótese sobre uma vista aérea o resultado é este:


Sendo que a laranja são as ruas que a muralha poderia ter atravessado segundo Mariano Calado e a amarelo os vestígios existentes (pelo menos os que eu conheço).

Há uma grande diferença entre o castelo da Atouguia e outro castelo qualquer. Neste temos de descer uma enorme rampa para o ver, enquanto nas outras terras normalmente temos de subir para entrar no castelo.
Isto acontece porque nós chegamos à zona mais antiga da Atouguia por cima, sendo que se quisermos ter uma perspetiva de como era antigamente esta terra temos de aceder por outro lado.


Isto é o que resta do castelo visto da zona onde antigamente existia o porto.


Antes de subir está esta fonte, sobre a qual encontrei informação aqui, a qual passo a citar:

A velha fonte de S. Leonardo, que sempre acompanhou, e deu de beber aos mais primitivos povos, que por estas bandas se demandaram buscando seus proveitos; encontra-se hoje praticamente abandonada. Possui cerca de seis metros de profundidade, mas ao tempo em que se laborava no porto, esta se mantinha ao mesmo nível deste. Com o assoreamento do vale, a mesma foi subindo suas paredes até chegar aos dias de hoje, como se encontra actualmente. No fundo da fonte, e do lado da igreja nasce a água por um buraco semi-circular, pois deve ter sido esse o seu princípio em tempos muito remotos, que deu água a tantas gerações. Soterrado um pouco abaixo do nível do actual piso, existe um brazão da Vila de Atouguia, que só tem um touro com um castelo em cada corno, diferente daquele que lá se encontra a descoberto possuindo dois touros, bebendo em uma pia. 

Perto dos vestígios do castelo mais conhecidos, há alguns panos da muralha que ainda subsistem:


Entrando na povoação, a presença medieval mais conhecida é a Igreja de São Leonardo (século XII):

A partir desta igreja começa a Rua José Augusto Vaz, que tem um aspeto bastante pitoresco e nos prova a antiguidade do local:

Como eu não também não tenho nenhuma formação em história ou arquitetura, não consegui identificar nenhum pormenor que remetesse em específico para a Idade Média, sendo o mais antigo que consegui identificar um vão manuelino (início do século XVI):


Quanto à muralha, nada de óbvio. No entanto em cima do perímetro delimitado por Mariano Calado está este edifício, que por hipótese poderia ter aproveitado uma secção da muralha:


Sempre achei estranho sobrar tão pouco das defesas da Atouguia. Normalmente, muitas das paredes das construções defensivas sobrevivem pois as casas são construídas em cima delas, com paredes em comum, como em Coimbra, ou então porque ficam numa zona que pelas suas características pouco propícias à construção consegue fugir à expansão da terra, como em Leiria.


Da Atouguia medieval chegou-nos muito pouco. O mesmo se passa com Peniche.
Creio que por detrás disto estará o pouco espaço disponível para o desenvolvimento da região (obrigatoriamente perto do mar), que forçou a sobreposição de construções, e o pouco interesse artístico que os edifícios apresentavam. Isto levou ao desaparecimento da maior parte das construções medievais na Atouguia e na sua totalidade em Peniche.


# percurso feito em 3-7-2012

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