um final feliz


Nunca tive a pretensão de que deste blog fosse resultar algo de muito significativo, mas sempre tentei, como aconselhou Ricardo Reis, pôr quanto sou no mínimo que faço.
No entanto, isto sempre andou num limbo. Pela minha parte, não tive nem o tempo nem a informação de que gostaria para fazer deste lugar um verdadeiro espaço de reflexão quanto à cidade de Peniche em especial à relação da sua comunidade com o património.
Hoje sinto-me mais impotente do que nunca, por não me considerar competente quer na abordagem histórica, para a qual não tenho nem a legitimidade nem os recursos para desenvolver convenientemente, quer na abordagem política, visto que não pertenço aos círculos decisores onde nascem e se desenvolvem os projetos em Peniche. Até agora sempre ataquei a lógica do "eles é que governam isto entre eles", que sempre me pareceu uma desculpa para a inércia da população. Mas com o tempo (estou a ficar velho) cada vez tenho ganho mais consciência da inutilidade dos meus esforços.
Aquilo que um plebeu como eu se tem vindo cada vez mais a aperceber é de que à conta do desinteresse da população há uma elite de boas castas em Peniche que faz tudo o que eu mais posso desprezar em democracia: a convivência entre os empresários que submetem projetos e os autarcas que os aprovam; a discussão a portas fechadas e entre um círculo restrito de pessoas de temas que dizem respeito a toda a sociedade; a opinião de certas respeitadas entidades que falam do alto do seu bom nome e não dizem nada que se escreva, seja por não terem o trabalho de se informar minimamente ou porque lhes basta abrir a boca para que se lhes continue a reverência; a abertura da política a novas gerações apenas se os seus elementos forem portadores de um de uma meia-dúzia de determinados apelidos; a inclusão neste sarilho dos partidos que se revezam na autarquia (menos PC, que tem os seus próprios círculos) e dos diferentes media da região, o que explica em parte a má qualidade de uns e outros.
Não aconteceu nenhum evento que fosse introduzir alguma mudança na vida política desta terrinha: acho apenas que cresci, a minha vontade e energias esbateram-se, e faz sentido fechar este capítulo. A minha intervenção em prol do desenvolvimento de Peniche não ficará por aqui (e isto é uma ameaça!): continuarei a pautar-me pelas causas que considero merecerem ser defendidas, e continuarei a falar sempre que considere tal ter utilidade.

Sem querer fazer disto uma grande cena, não posso ir com os porcos sem fazer alguns agradecimentos:
À minha mãe e à minha madrinha por terem sido o público mais fiel aqui do menino.
Ao meu pai pela divulgação e apreciação crítica.
Ao meu irmão pela companhia nas reportagens fotográficas.
Ao António Albuquerque, ao Rui Alexandre Ramos e a todos os que partilharam o estaminé no Facebook, graças aos quais ganhei leitores, sem os quais isto não teria grande sentido.
Ao Adriano Constantino, ao Fernando Engenheiro e a todos os que me forneceram informação e ajuda na parte histórica.
Aos leitores e (ocasionais) comentadores, que espero que se habituem rapidamente a prescindir das minhas parvoíces. Para consolo de todos vós que lamentam esta irremediável perda, quero dizer-vos, Mãe e Madi, que eu não deixo nada (pelo menos de relevante) por escrever sobre os assuntos que mais me interessam em Peniche, pelo que também não se vai perder nada de especial.

Depois desta treta toda, tenho de confessar que o blog não vai acabar já já, pois tenho estado a fazer posts sobre alguns assuntos relacionados com Peniche sobre os quais já tinha recolhido informação, e vou continuar nos próximos dias. Publico esta declaração de falência não fosse parecer que eu estava com a genica toda e agora é que isto ia ficar alguma coisa que se apresentasse. Pelo contrário, o forrobodó dos próximos dias é só para que daqui a uns tempos quem aceder ao blog fique com a ideia de que isto era muito lindo e asseado (pronto, na verdade é porque tenho o blog no currículo - a partir de agora sintam-se à vontade para fazer comentários em que contem como eu vos meti a trabalhar um Fiat que caiu dos rochedos dos Remédios ou cenas do género).
Não digo que mais tarde não volte a escrever (este blog já esteve por duas vezes parado um ano), mas por agora, e isto é a melhor forma que arranjei de dizer o que sinto, perdi a pica. Daqui para a frente vou tentar viver a vida normal de um jovem de 22 anos. Pelo menos até maio, altura em que faço 23.

2 comentários:

  1. Percebendo o post e as suas razões, por mim fica concedida a licença sabática.
    Mas não deixes os "porcos" engordar. Volta sempre e rápido...!

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    1. Obrigado :) Eu de certeza que vou voltar, explorar o património de Peniche é uma coisa que, não faço ideia porquê, faz parte de mim.

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