Talvez parar para pensar melhor no assunto não fosse má ideia. Mas aí é que bate o ponto: por definição, a democracia viral não tem tempo para pensar, é instantânea e imediatamente contagiante, como todos os vírus. E disso depende a sua eficácia. Acrescente-se-lhe o exército de repórteres-justiceiros que, de telemóvel em punho e Facebook à espera, estão sempre alerta para que nada lhes escape, e temos, em todo o seu esplendor, o processo de formação das opiniões públicas nos tempos de hoje. Suicidariamente, os jornalistas e as instituições movem-se por reação e não por reflexo. Não param também para pensar se um determinado acontecimento, sufragado pelo "efeito viral", tem ou não mérito em si mesmo: a partir do momento em que existe, a notícia passa a ser a sua própria existência e há que reagir.
Miguel Sousa Tavares
Sem explicar os seus fundamentos objetivos, o governo permitiu a previsível fuga do PS, que está convicto de que, politicamente, ganhará muito com isso. Silencioso quanto às verdadeiras razões desta reforma, o governo permitiu, assim, que a discussão se deslocasse para o plano ideológico, quando se trata apenas de falta de dinheiro.
Medina Carreira
Toda esta novela de António Costa, toda esta indecisão, toda esta falta de clareza, obrigam-nos a pensar se ele tem o que o próximo primeiro-ministro precisa de ter. Em bom português: tomates.
Daniel Oliveira
No Canadá, os governos foram forçados a atuar, porque a opinião pública tomou consciência de que o aumento dos défices significava mais impostos no futuro. Por cá, nenhum governo será penalizado por "fazer obra".
Nicolau Santos
Boa parte da classe política, cada vez mais cega e pindérica, não percebe que esta visão tem um preço: também os eleitores passaram a ver os políticos, não como pessoas dedicadas à comunidade, mas como alguém que se serve a si próprio. O facto de terem (cada vez menos) votos não significa respeito. O respeito, caros eleitos, é algo que a maioria de vós já há muito perdeu. Com ele foi-se a coragem que vos falta para quase tudo o que seja ir contra a corrente: de aprovar salários decentes para os políticos a defender sequer o direito que têm à privacidade.
São mal tratados.
Mas põem-se muito a jeito.
Henrique Monteiro
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