um amor só meu

Como o mais astuto leitor já terá tido ocasião de reparar, entramos hoje no nosso querido mês de Agosto. Para celebrar este dia especial, que só ocorre uma vez por ano, deixo-vos com um texto de Fernando Alvim:


De maneiras que o que aconteceu foi isto e foi muito simples: eu vi-a. Era uma noite normal, foi por volta das 2 da manhã, talvez 2.30 não sei bem. O que eu sei, é que ela usava uma camisola às riscas azul e branca, tinha o cabelo comprido e falava animadamente com uma rapariga e um outro rapaz, que mais tarde percebi ser só um amigo: era só um amigo. A camisola às riscas azul e branca, não sei porquê, fazia-me lembrar aquelas tendas de praia que quando era miúdo, a minha família alugava em Vila Praia de Âncora ou em Moledo, e quando estava frio ou vento, metíamo-nos todos ali dentro e sinceramente não me lembro de ser tão feliz. Muito mais do que um dia de sol, porque nos dias de sol, a minha família não se unia tanto como naquela tenda tão pequena. Onde é que eu ia? Exactamente, ela lembrou-me esse verão, se quiserem ela até pode ser esse verão, essa praia, esse tempo onde estamos todos dentro da tenda, o que seja. O que é certo é que eu estava no bar. Ela a dois metros com uma amiga muito bonita que com ela estava a falar de rapazes. Era sobre rapazes que eu bem sei, porque se observarmos bem, conseguimos sempre entender do que é que as mulheres estão a falar. E não é difícil: ou de rapazes ou dos saldos da berska ou dos filhos. Não interessa. Eu a perguntar-me como é que vou fazer isto. Eu a pedir uma bebida qualquer para ganhar coragem aqui dentro e tentar dizer-lhe de uma forma nunca antes vista, absolutamente singular, que ela era tudo o que eu sempre havia procurado, que por mim nada mais ambicionava, que chegaríamos à igreja e eu responderia que sim a tudo, que casaríamos pois, que teríamos filhos com mérito, férias com os miúdos em sítios muito divertidos e nunca antes explorados, que veríamos pouca ou nenhuma televisão, mas que iríamos ao cinema ao ar livre ver filmes da década de 40. E então fiz isto: num acto de grande coragem – palmas por favor para este grande heroi que agora vos escreve - disse-lhe tudo isto. E isto é absolutamente verdade. E a partir daí? A partir daí bebemos os dois, falamos como se um e outro fossemos um livro de muitas páginas, dos bons, dançamos muito perto um do outro, saímos dali para outro bar onde todos pareciam reparar no nosso amor, já no pequeno almoço – com todos a reparem - pedimos uma meia de leite como se o celebrássemos e já no táxi – com o motorista a reparar pois - quando lhe disse a morada de casa dela, foi como de repente ele atirasse arroz pelo ar e se ouvisse “ viva os noivos”. E ao chegar a casa, quando ela subiu as escadas em direcção ao que é seu, percebi por fim o que todos repararam: que este amor era só meu.

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