licenciatura, o martírio dos autodidatas

Daniel Oliveira foi atacado pelo Correio da Manhã em relação aos seus estudos superiores e escreveu um texto a defender-se. Ora bem, nós do Correio da Manhã não podemos esperar nada que sequer mereça a tinta com que foi impresso, mas esta defesa do Daniel Oliveira também não me sossegou muito. Acontece que se candidatou a um mestrado sem ter concluído a licenciatura, o que segundo o
próprio é "absolutamente legal e comum". Diz Daniel Oliveira que "regressar ao 1º ano de licenciatura, pelo menos como elas hoje são, não me estimularia especialmente" e "o mestrado pareceu-me um bom compromisso para ler coisas um pouco diferentes daquelas que habitualmente leio, ter de pensar de forma mais estruturada e consequente sobre alguns assuntos que se relacionam com a minha atividade profissional e, se fosse o caso, ter fazer um trabalho final sobre um assunto que na altura me interessava especialmente", o que de facto parece ser muito aliciante para o estudante, ou melhor, cliente da universidade, mas muito fraquinho para o empregador e consumidores do trabalho jornalístico. No entanto, é um erro fazer disto um caso pessoal, até porque Daniel Oliveira não está sozinho: "Aliás, há vários jornalistas veteranos não licenciados que fizeram mestrados e doutoramentos, com teses bastante interessantes. Tive alguns como colegas no próprio mestrado".
No fundo, se um jornalista pode tirar mestrado sem ter feito licenciatura desde que apresente provas de que trabalhou na área, e lá está, se é possível entrar na área sem ter a licenciatura, é porque a licenciatura em jornalismo é completamente inútil. Daniel Oliveira fez bem, livrou-se dessas cenas secantes como o Direito da Comunicação e da Informação, Redacção Jornalística, Técnicas de Expressão Escrita, Métodos de Pesquisa e de Investigação, e outras tretas irrelevantes para uma carreira jornalística. Enfim, escolheu a fina flor da ciência em que se formou. E eu só espero que o Expresso continue a deixá-lo escrever as suas excelentes crónicas, porque se um dia Daniel Oliveira tiver de fazer outra coisa em jornalismo que não escrever crónicas, pode não correr tão bem.

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