o sofrágio

Devo-vos confessar que ainda não faço ideia em quem vou votar, entre CDU, PS, PSD, branco, nulo, não votar, CDS ou BE também há ao que parece.
Cada vez me identifico menos com o sistema e cada vez mais o sistema se identifica menos comigo. Estamos juntos a perceber que temos muito pouco a dar um ao outro. A minha experiência no associativismo é parca, passando por umas cenas estranhas na Associação Académica de Coimbra que o tempo me vai explicar.
Como tudo o que é mau funciona bem o esquema (vou alternar "sistema" com "esquema" para tornar menos maçador o texto) mantém-se nos mesmos moldes em todos os sufrágios populares, de que são exemplo maior as autárquicas. A cisão entre mim e o sistema é cada vez mais funda - começa a aparecer malta da minha idade nas listas. Malta impecável, que sempre ouvi os professores elogiar e cuja amizade era disputada com veemência. Gente conhecida e de bem, cujos pais já eram pessoas de prestígio. Enfim, jovens admirados pelos pares e reconhecidos pelos mais velhos que ficam a matar nos panfletos.
E pergunto-me - que posso eu dar a um esquema que nada tem para me oferecer? Bem, é este o problema que eu ainda não resolvi. Por um lado, sinto que se não sou parte da solução, sou parte do problema, por isso ainda está calor e a praia é mesmo aqui ao pé. Por outro lado, há uma belíssima frase de Clayton Williams que diz: rape is like bad weather: if it's inevitable, you might as well relax and enjoy it. Neste sentido, não nos compensa alienarmo-nos ao sistema, se ele estará sempre omnipresente.
Posto isto, há sempre a possibilidade de enveredar pelo território de excelência das autárquicas - a familiaridade com os candidatos. Se bem que enquanto uns votam no Tozé porque andaram com ele na escola, no Jorge porque são colegas de profissão ou no Luís porque são lá da rua dele, eu vou votar nos que menos chatices me fizerem lembrar. Lista por lista, será que encontro uma em que ninguém me tenha chamado nomes ou inventado queixinhas à professora? É um exercício penoso, pois quero entregar à próxima geração a melhor cidade possível, mas para isso é preciso escolher bem os que a vão gerir nesta. Mesmo que seja por exclusão de partes.

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